quarta-feira, 27 de junho de 2012

Bravo, bravíssimo!










Alegria, exitação, preguiça, coragem, medo, frio, sono, motivação, desânimo. Durante 1 ano, as emoções e sensações vieram no atacado. 
Há quase um ano, comecei a escrever sobre meu amigo Harry e seu projeto um tanto quanto incompreensível para mim.
Ao longo desses meses, pude ver o que é aceitar um desafio insano, duvidar e acreditar de si mesmo com a mesma intensidade, se propor a mudar toda a rotina de trabalho e consequentemente o convívio com a família (sem falar no lazer, ou melhor, na falta dele) e cumprir uma programação espartana de treinamentos variados.
Nos últimos dias, já na Inglaterra, este projeto se tornou concreto e porque não dizer, aterrorizantemente concreto.
Possivelmente para o Harry foi o momento mais verdadeiro de confronto interior. Apesar das dúvidas e temores, pude ver ele receber tanto apoio e carinho, que com certeza fizeram com que todas as energias se canalizassem para este resultado positivo.
E ontem, quando ele me contou que tinha conseguido completar a travessia, pude perceber que cada um de nós que o acompanhou nesta jornada, atravessou junto com ele.
Acho que mesmo se ele não tivesse conseguido completar a travessia, já teria ganhado admiração e respeito de todos nós.
Provavelmente este é o último post do blog. E talvez o que eu tenha escrito com mais alegria. 
Agradeço a todos que compartilharam dos meus pensamentos através dos textos.
Agradeço especialmente ao Harry, pela oportunidade de traduzir em palavras esta vivência tão particular.
Levo uma lição de determinação, perseverança e principalmente, do entendimento de que apesar de todos os sentimentos ambíguos, quando alguém se dispõem a enfrentar um desafio, é capaz de identificar em si mesmo uma força que talvez nunca ousasse conhecer. Nossos limites são exclusivamente nossos e isso nos dá um relativo controle sobre a vida.
Agora o Secretário de Turismo de Ilhabela acrescenta ao seu currículo, um título que ninguém poderá tirar dele: aos 55 anos, conseguiu atravessar o Canal da Mancha, A nado.
Daqui em diante, seguiremos nossas vidas como de costume. Mas para história dele, essa passagem será especial.
A única coisa que me resta, caro Harry, é chamar todos os teus companheiros e dedicar uma salva de palmas!
Bravo bravíssimo!!!

domingo, 24 de junho de 2012

Trocando figurinhas



Que a existência de um técnico-especialista é fundamental, já foi dito num dos primeiros posts do blog. Mas pelo que o Harry me conta, neste momento, a presença do Igor é fundamental.
Nos primeiros dias em Folkstone, Harry e Max receberam as orientações do técnico, mas não de maneira presencial. Agora que o Igor chegou à Inglaterra, a mudança foi significativa.
Por um lado, a experiência do Igor em maratonas aquáticas – mais precisamente no Canal da Mancha por ter treinado vários brasileiros e franceses para a travessia –trouxe a ele uma bagagem de conhecimentos notável. Mas acima de tudo, pelo fato dele mesmo ter feito a travessia 2 vezes (uma dela, ida e volta) faz com que ele compreenda melhor o que seus atletas estão sentindo.
As dificuldades estão sendo relatadas e os nadadores estão percebendo que não são só eles que sentem tudo isso. Qualquer pessoa, mesmo o mais bem preparado, tem problemas para se adaptar à condições tão adversas. O Igor relatou várias vezes sobre nadadores bem preparados e que mesmo sendo excelentes nadadores, não conseguiram chegar do outro lado. Assim como há casos, não poucos, de nadadores que chegam aqui e desistem no aquecimento.
Nos últimos dias, os três têm conversado bastante. Trocar experiências traz uma tranquilidade importante aos atletas. Eles ouvem atentamente os relatos do Igor sobre as suas travessias. Da mesma forma que eles, o técnico sofreu com a baixa temperatura da água e a presença de ondas, provocadas pelo vento, também atrapalharam a sua performance.
Nada como saber que o que um atleta sente é semelhante ao que outros também sentem. Isso trouxe um conforto maior ao Harry. Ele reconhece os efeitos positivos, principalmente psicológicos, de todas estas conversas. Dessa forma entendeu que todo seu preparo foi correto e que as possíveis dificuldades são absolutamente compatíveis com um projeto dessa natureza.

sábado, 23 de junho de 2012

A batalha contra o termômetro continua




Quase uma semana depois da chegada na Inglaterra, o Harry ainda está com dificuldades de se aclimatar.
Pelo que senti dos seus relatos, parece que esse é o aspecto mais preocupante. A cada treino, eles aumentam o tempo de permanencia na água e mesmo assim está muito difícil superar a baixa temperatura. Vejam as palavras do Harry: “Sempre soube que não seria fácil e que a água fria somada aos 36 km seria o principal problema. Apesar da boa estratégia de treinamentos, a média da temperatura da água tem sido de 13,4 a 13,8 graus e, entrar no mar e se acostumar com o frio está sendo muito mais difícil do que eu imaginava.
O que o Igor está priorizando no momento é que os nadadores fiquem na água e não se preocupem tanto com a técnica.
Uma das preocupações do Harry é a sequência de horas sem sair da água. Ele me contou sobre a rotina de treinos: “Levantamos cedo e tomamos café por volta das 8 da manhã. Ainda no hotel, o aquecimento começa. Alongamentos e movimentos de girar os braços são fundamentais para preparar músculos e articulações. Entre 10:00 e 10:30hs, vamos para a praia. É muito difícil chegar no mar! Além do caminho cheio de pedras, o vento é cortante. Deixamos nossas coisas atrás de uma grande pedra e colocamos outra menor, por cima de tudo, para que nada saia voando! Depois, tiramos a roupa e passamos a vaselina no corpo (debaixo dos braços, braços, ombros, rosto e coxas). As sandálias, Crocks ou seja o calçado que for, só dá para tirar quando chegamos na beira do mar. Entrando na água, giramos os braços ainda mais, para aquecer as articulações.
Então, olhamos um para o outro e também para as ondas, tentando achar o melhor momento para entrar.
Uma vez na água, só penso numa palavra: choque! Com certeza eu nunca havia experimentado nada parecido. Só depois de uns 3 minutos é que esboço uma reação.
Eu e o Max começamos nadar juntos, mas por ele nadar mais forte e mais rápido, acaba sempre se distanciando de mim. Afinal de contas, 16 anos nos separam!
Acabo usando os prédios ou montanhas ao redor como referência, pois com tantas marolas ficar perdido é muito fácil. Num dos treinos tinha até sol! E que sensação boa essa de ver o sol!
Uma hora depois do treino longo, de 3 horas, volto para o ponto de partida para tomar o suplemento. E para voltar para água depois? Choquinhos pelo corpo todo! E dores. A primeira coisa que penso é se os outros também sentem tudo isso.
Conforme vai relatando, vou ficando cada vez mais apreensiva. Penso no sentido de tudo isso e se as coisas estão sob controle.
Ele me conta que em um momento, percebeu que os dedos da mão não fechavam e que teve medo de estar congelando.
Mas novamente esperou passar aqueles primeiros momentos e o corpo se adaptou mais uma vez.
Senti que nesses momentos críticos o que mais ele pensa é no todo. Ter se preparado por 12 meses nāo é pouca coisa. Outros nadadores nas mesmas condições devem sentir e pensar o mesmo e embora seja difícil, nāo dá para simplesmente desistir sem continuar tentando.
Duas horas depois desse treino, um novo equilibrio se estabelece. Os dedos da māo não voltaram ao normal, mas ganharam um pouco mais de mobilidade, as dores no corpo estavam sob controle e ele conseguiu! 3 horas e um minuto depois ele saiu do mar. A garrafa de água quente foi um prêmio especial.
Durante os 40 minutos em que ficou no chuveiro quente, tudo em que ele mais pensava era: eu consegui!
Pode parecer exagero, mas acho que o frio tomou conta do pensamento de tal forma, que possivelmente ele pode entrar em pânico. Depois vejo que o treinamento psicológico está fazendo efeito. Apesar do desespero, ele ficou até o final!
A cada dia os desafios aumentam. E o Harry já compreendeu que o esforço é bem maior do que todos esses treinamentos e que os limites estāo sendo testados a todo momento. 
Caro Harry, tenho certeza que você saberá entender até onde poderá chegar e os seus amigos estarāo com você incondicionalmente.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

E os treinos continuam


A longa e dolorosa trajetória rumo ao mar


Na segunda-feira, 18/06, foram Harry e seu companheiro Max para o mar.
Pela manhã: 50 minutos de natação. Depois de alguns exercícios, o Harry resolveu ficar mais 6 minutos. Só para se acostumar com o frio. Quase congelou o cérebro.
Mesmo depois de almoçar, parece que aquele frio todo abriu um apetite infinito nos nadadores! Deram uma "passadinha" no supermercado e compraram chocolates, guloseimas, bolachas, refrigerantes e... frutas. Tudo bem que a orientação é ganhar gordura, mas o alarme da balança começou a apitar!
O cansaço depois deste treino da manhã foi tanto, que o Harry fez algo que nunca tinha conseguido antes: dormir à tarde!
Depois do descanso, adivinhem? Mais treino no mar. O principal objetivo é se acostumar com a temperatura da água. O nado em si fica em segundo plano.
Um dos grandes desafios é caminhar em solo, como diria, tão hostil! Do lugar onde deixa as roupas até a beira d’água, é possivel se pensar em vários adjetivos horríveis, pois as pedras são impressionantemente pontudas! Por essa razão, ele ainda não sabe o que dói mais: andar nas pedras ou entrar na água gelada! Fato é que a combinação das duas sensações é inesquecível! Segundo o Harry: "Dói tudo! dói a cabeça como um todo, os olhos.. e a testa? Dói demais! Pelo menos para mim, demora 3 a 4 minutos para as dores diminuem e aí sim consigo começar a nadar direito. Nesse primeiro momento, as batidas na água são totalmente descompassadas e sem sincronia, e aos poucos vou avançando até o ponto que voltamos. Dependendo da duração do treino, continuamos indo e voltando, e dessa forma treinamos também a nadar contra a correnteza."
No final do segundo treino, o Harry não esqueceu a garrafa de água quente e pelo que ele descreveu. a sensação é tão boa que dificilmente ele vai esquecer de levar de novo!
Num dos momentos de repouso, aproveitou para ler um pouco e navegar na internet.
Quando entrou no Facebook se deu conta de quantas pessoas estão conectadas e torcendo por ele.
No dia 17/06, nosso caro Harry completou 55 anos e receber tantos votos de felicidade ajudou a encher seu coração de calor e energia.
Estamos aqui, Harry! Emanando dos trópicos todo o calor que você precisar!

terça-feira, 19 de junho de 2012

Notícias bem fresquinhas (brrrrr....) do front


O que é, o que é, um pontinho amarelo no revolto Mar do Norte?



E então o Harry chegou em Folkstone. E onde é Folkstone? É ao lado de Dover, de onde ele sairá para a travessia.
Esta cidade é escolhida porque é bem tranquila e o hotel fica próximo ao mar. Lugar perfeito para se aclimatar e se concentrar.
Na sexta-feira, 15/06, quando chegou, o Harry ganhou o dia para descansar. Mas no sábado pela manhã, os treinos começariam.
E a temperatura? Da água, inevitavelmente fria, mas como ventava muito (e consequentemente tinha muitas ondas) o treino foi cancelado.
Sendo assim, ele foi passear no centrinho da cidade e esperar o outro companheiro de travessia que deveria naquele dia.
Depois de almoçar com seu amigo Max e descansar, hora do treino da tarde! Só para ele, porque o Max, por ter chegado só no sábado, teria folga daquele treino.
17 horas. Mar agitado. Muito frio e muitas ondas. Nada de folga para o Harry. E ele foi treinar mesmo.
Pequeno detalhe: para quem está habituado às areias brancas e macias de Ilhabela, aquela praia é um atentado! Somente quem está com Crocks (sapato de uma borracha/espuma) ou é faquir consegue chegar na água sem furar os pés. Santa dica de levar o Crocs para a viagem!
E vejam como foi, nas palavras geladas do Harry: " Tirei a parca (um imenso casaco bem quentinho) que nunca tive coragem de provar em Ilhabela, por conta do calor que se passa lá dentro. Aqui caiu como uma luva! O Max me disse que só queria que eu colocasse os pés na água para sentir o frio. Mas eu fui adiante no meu streap tease, pois iria entrar no mar. Olhei bem para ele, pensei muito em tudo, girei os bracos para aquecer um pouco. Pelo menos quem sabe para o psicológico iria funcionar... e fui em direção ao mar. Coloquei meus pés na água. O frio subia por todo o corpo. Nesse primeiro dia a meta era nadar 10 minutos para se acostumar com a temperatura. Mesmo com todas as dicas do Igor, de molhar a nuca e os rins primeiro, antes de entrar (temos que fazer isso sempre, pois ajuda) foi um susto! A primeira sensação é de que nao vai dar! Para tudo! Até a respiracao parou um pouco! A diferença de temperatura do corpo com a da água (13,6 graus) é realmente absurda! Mas segui por mais alguns minutos, ora nadando, ora olhando e colocando a cabeca para fora. Depois de uns 3 minutos o corpo já estava assimilando bem todo esse choque e consegui dar umas braçadas. Eram tantas ondas e tanto vento que nem sempre a nadada saía bem.
Nadei por 10 minutos, fiquei mais um pouco e sai. Logo na saída o Max me ajudou a colocar a parca e me perguntou se eu havia levado a agua quente. Ops... era mais uma dica do Igor que consistia em pegar uma garrada e encher com água quente. Mas eu esqueci de levar."
A grande recompensa foi o banho no hotel!
Primeiro dia de treino e ele sobreviveu! Força Harry, o reconhecimento do terreno já foi. A partir daí é só dominar as variáveis e nadar muito!
Não sei se o Igor vai gostar, mas toma um golinho daquela bebida aí, do país vizinho, que deve ajudar a esquentar!

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Está chegando a hora!

Este post é especial. Hoje o Harry embarca para Inglaterra.
Resolvi escrever algo que pudesse sintetizar este ano de preparação.
Para o Harry, provavelmente foi um dos anos mais intensos de sua vida e que provocou grandes transformações.
Para mim foi a oportunidade de entender (é, às vezes foi difícil...) e relatar um processo tão importante na vida de um amigo.
Quando começamos o blog, me propus a registrar os treinamentos e também as emoções de todo este preparo.
Conhecer e entender nossos limites em treinamentos tão extremos deve ter algum sentido.
Preparar-se para a conquista de um sonho talvez seja mais fácil do que preparar-se para o fato de não conseguir completar o percurso. Sei que isso não deve nortear o treinamento, mas saiba, Harry, que pelo menos para mim, e acredito que para todos os que acompanham o blog, só de se dispor a um desafio como este já é uma imensa conquista.
Confiar em si mesmo é saber que um relativo controle sobre o próprio corpo e mente é possível. Talvez daqui a alguns anos o Harry ainda esteja processando todos os acontecimentos, mas creio que os ensinamentos levará com ele para sempre.
Este não é o último post. Combinamos que diretamente da Inglaterra, mandará notícias e atualizarei o blog.
Caro Harry, você leva na sua touca e no seu coração uma legião de amigos e admiradores da sua determinação e coragem.
Nossa mensagem para você:
Boa viagem e...

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Entre o inferno e o paraíso



E a (ou as) semana do inferno continua!
No começo de junho, o Harry teve a oportunidade de "treinar" o efeito da água fria no corpo de um nadador!
Local: represa Billings. Hora: 4:00h (sim, da manhā). Luz natural? Nenhuma.
O cenário é mesmo infernal! Isso porque eu ainda nāo disse a temperatura da água: 18 graus. Sensaçāo térmica? Melhor nem saber.
Depois de uns 40 minutos nadando, o corpo parou de tremer e tudo voltou ao normal (mesmo que eu nāo entenda o que tem de normal em tudo isso).
Só de nadar no escuro e no frio já torna o treino inesquecível. Passadas 5 horas e 40 minutos (depois de 2 horas amanheceu. Aí sim ficou muito fácil...), o treino acabou.
Foram 5 voltas de 1 km cada uma. A primeira, em ritmo mais lento, já que o objetivo era mesmo passar frio (???).
Vejam o que me disse o Harry: "Foi muito desgastante, mas consegui terminar. Fui para o banho e mesmo depois de 20 minutos debaixo da água quente, meu corpo tremia. Aos poucos fui me vestindo ao melhor estilo cebola: em camadas!"
Na volta pata Ilhabela, parou em Santos, para se consultar com seu médico ortomolecular e esportivo. Este profissional o acompanha desde o ano passado, inclusive orientando na sua nutrição.
Constatado: 1 kg a mais na balança. Mas de massa magra. E o percentual de gordura, de 23%, permanecia o mesmo. O ideal na Travessia é chegar aos 24 ou 25%.
O que significa isso? Sim, depois de viver momentos de inferno, o Harry tinha como obrigaçāo engordar! Bem-vindo ao paraíso!
Olhem só o que o Harry ouviu do médico: "Harry, coma o que você quiser até o dia da travessia! Frituras, gorduras, enfim, tudo!"
Deve ser um sonho ouvir uma recomendaçāo assim!
O que fez entāo o obediente paciente? Saiu do consultório e foi direto para uma churrascaria. Rodízio!
Chegando em Ilhabela, mais morto que vivo, tomou todos os relaxantes musculares que achou em casa, colocou uma bolsa de gelo no ombro (sim, as dores tinham aumentado) e foi dormir.
Quando acordou, se deu conta de dormiu 8 horas seguidas! Nem se lembra qual foi a última vez que dormiu tanto.
Apesar do "momento paraíso" proporcionado pelo médico, o Harry ainda vive a metade das duas últimas semanas do inferno. Desde o Aquaman até aquele treino na represa, já tinha nadado 72 km.
Ânimo Harry, faltam só 60km pra completar a meta!